Era uma vez...


 “Durante sete anos tratei da tua casa, da tua roupa, da tua comida. Durante sete anos não tive um dia de descanso para que nada te faltasse. Quando pedi a mão da tua filha, mandaste-me ao inferno em busca dos três anéis do diabo. Ao inferno fui, do inferno voltei. Toma os teus anéis, dá-me a tua filha…”

Este excerto foi retirado da história “Os anéis do diabo” e foi com ela que, em novembro, levamos as crianças numa busca muito especial durante a hora do conto. Desta vez, nem lobos, nem bruxas, foi mesmo com o diabo que nos cruzamos. Fizemos uma viagem muito longa à procura do inferno, passamos por várias encruzilhadas, falamos com três reis que nos tentaram orientar, atravessamos o mar montados num pássaro, sentimos o calor do braseiro e até com a mãe do diabo falamos, mas não descansamos enquanto não o olhamos de frente por muito medo que nos metesse.
Engana-se quem acha que estas histórias são muito sombrias e funestas e que as crianças não gostam porque, entre olhos arregalados e sorrisos mal disfarçados, no final da história, todas queriam era ver o diabo e sobretudo este que, vivendo ainda com a mãe, medo não metia já que era ao colo dela que ele dormia.
Diabos são muitos os que se cruzam no nosso caminho pela vida fora e, muitas vezes, o nosso percurso assemelha-se mesmo a uma ida ao inferno e a um retorno. Talvez seja por isso mesmo que é destas histórias que o nosso povo é feito, não fosse esta uma história tradicional portuguesa que Alice Vieira recolheu dentro de outras mais. Cabe-nos a nós não deixar estes contos nas estantes e apresentá-los aos mais novos para transportarem com eles uma bagagem cheia do que de melhor se foi contando há muitos anos atrás…

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